Os Curitibanos na expansão da Paulistânia no Sul do Brasil

As primeiras penetrações brasileiras no Sul do Brasil ocorreram na primeira metade do século XVII através da ação preadora dos índios pelos paulistas contra o Tape e outros núcleos jesuíticos. Entram os vincentinos - num esforço de colonização - fundando São Francisco (1660) e Laguna (1676) para dominar os campos curitibanos onde crescia gado deixado pelos jesuítas e, depois, a Colônia do Sacramento (1680). Esse estabelecimento militar longínquo manteve-se em território inimigo através da viabilidade econômica que lhe conferiu o negócio de couro de gado das Vacarias del Mar.
No século XVIII voltam os paulistas curitibanos à região como criadores. Visavam criar muares para vender ao mercado surgido nas Minas. A produção de muares é tão especializada que não se pode conceber que surgira espontaneamente na região. Os antigos provedores gaúchos das minas eram meros intermediários dos verdadeiros criadores, estancieiros de Corrientes e Santa Fé, na Argentina, que se tinham especializado para as minas de Potosi. A decadência da mineração espanhola e o surto da brasileira, criaria uma oferta de muares. Só muito mais tarde surgiu no Rio Grande do Sul criações de mulas.
Recrutam gente afeita ao trato do gado, ou seja, gaúcho, falando um guarani que os paulistas podiam entender: roçados de mandioca, de milho e de abóbora, e fazendo farinha, como todos os povos tupi. Esses gaúchos, incorporados aos núcleos paulistas que se formavam na campanha, serviram como aquerenciadores do gado, criadores de muares.
O novo tipo de exploração, que já não visava o couro mas o animal inteiro, como os bois de carro e os muares de carga, foi que fixou a população paulista curitibano na campanha, incorporando o gaúcho à sociedade brasileira."

O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil
Darcy Ribeiro

Imagem: Curitiba, 1827, Debret