Nas veredas entranhadas do tempo, onde os ecos confundem com o tropel das sombras, avançam os filhos de Tibiriçá, bandeirantes, cavaleiros sem estandarte, cujas armaduras não cintilam sob o luar, mas se embebem do suor da terra ignota. São os argonautas das selvas, cuja odisseia não se escreve em papiros, mas na carne lascada dos desfiladeiros, nos rios que carregam o sangue dos atlas desconhecidos. Seus feitos não são cantados em hexâmetros, mas ecoam em cada cidade fundada, nas gargantas das serras, nas entranhas das grutas que guardaram o ouro dos titãs decaídos. Que é a bravura, senão o fogo que arde naqueles que marcham sem mapa, guiados pelo imperativo categórico da conquista? Os bandeirantes não carregam a glória dos seus antepassados lusitanos, os seus épicos não são cantados nas cortes de Lisboa, pois o seu Lusíadas é inefável, escrita em pegadas que a chuva apaga. Sua pátria paulistânica é etérea; seu dever, rasgar o véu do novo mundo. Assim, quando o crepúsculo desce sobre os sertões, não busque seus túmulos, eles não jazem sob lápides, mas em cada caipira vivo, transformados em tradição que pulsa, em mito que não se decifra, mas se vive.