Nayib Bukele ganhou as manchetes do mundo inteiro ao transformar El Salvador — então provavelmente o país mais violento do mundo, com mais de 100 homicídios a cada 100 mil habitantes — em um dos mais seguros. Sua estratégia foi simples: reprimir os bandidos e prendê-los pelo resto da vida, uma vez confirmada a pertença a facções como a MS-13 ou a Mara 18.

Poucos lembram, porém, de um país que fez ainda mais do que El Salvador: a China.

Entre 1983 e 1986, Pequim lançou a Campanha de Repressão ao Crime, cujo lema era combater “severamente, gravemente e sem demora”. O país ainda se recuperava dos estragos da Guerra do Ópio. Mao Zedong, com todos os seus erros, havia praticamente erradicado o problema das drogas. Após os resultados, Richard Nixon e Henry Kissinger (descendente da elite criadora dos boletos de cartão de crédito) se encontraram com Mao e Zhou Enlai, fazendo a China se reabrir com as políticas de Den Xiaoping. Após sua morte, Deng Xiaoping abriu a economia, o que também trouxe de volta as drogas e a criminalidade.

A resposta veio em 1983: a campanha resultou na prisão de cerca de 1,8 milhão de pessoas e na execução de 30 mil em apenas três anos. A severidade permanece até hoje, com milhares de execuções anuais, realizadas poucos dias após o julgamento.

Claro que há problemas: o conceito de “criminoso” inclui também dissidentes políticos e missionários religiosos. Mas uma coisa é certa: podemos questionar os métodos — não os resultados.