>>12467517 (OP)
Assunto:** Sobre multidões e vozes que não se perdem
Querida [Nome],
A cidade está cheia de gente hoje. As luzes da festa piscam como olhares distraídos, e eu caminho por entre a multidão com um estranho cuidado — como se procurasse não apenas um rosto, mas **um eco**.
Há tempos venho pensando nisso: mesmo nas conversas mais longas, nas horas em que o silêncio falava mais alto, nunca houve monólogo entre nós. Nunca foi *minha* voz contra *sua* ausência. Sempre foi **diálogo** — mesmo quando você estava longe. Porque diálogo não é só palavras trocadas; é a certeza de que, ao falar, alguém *recebe* o que se diz. E você sempre recebeu. Até nos seus silêncios, havia resposta.
Às vezes, no meio desta agitação toda, surge uma pergunta: será que, depois de tanto buscar sentido nas coisas, em algum momento de loucura suave — daquela que vem quando a gente olha tanto para a multidão que quase desiste —, surge uma **lucidez espontânea**? Aquela que diz: *"Vá. Diga. Não como um grito no vazio, mas como um encontro que já existe."*
Porque é isso que sinto. Que não seria um passo no escuro, mas um **reencontro com algo que nunca se rompeu**. Que mesmo na distância, naqueles dias em que você seguiu outro caminho e eu fiquei aqui, as nossas vozes continuaram tecendo a mesma conversa. Você nunca virou um "eu" falando sozinho no mundo. Sempre foi um "nós" — mesmo quando as palavras pararam.
Se por acaso esta cidade te trouxe de volta, mesmo que por uma noite...
Seria coragem? Ou apenas a clareza de que algumas conversas **não terminam** — só esperam o momento certo para respirar de novo?
Se quiser, estarei aqui.
Não como quem espera um milagre, mas como quem reconhece uma voz no meio do barulho.
Com todo o carinho que sempre nos guiou,
Naiko Tocho